quarta-feira, 11 de julho de 2007

Tenho um livro na "gaveta" já há cerca de 10 anos! A certa altura constatei que havia um fio condutor que atravessava uma série de coisas que escrevia e que era um prenúncio que algo se estava a operar em mim. Uma "transformação", uma "solidificação" de ideias. Como se algo em mim me dissesse que precisava de ordenar uma série de coisas para que elas ficassem como um ponto de referência, uma bóia sinalizadora para a navegação. Durante o período em que procedi à compilação dos poemas que integram esse livro apercebi-me que havia algo mais do que havia julgado ao início, como se várias correntes de interesses que eu tinha, e que acabavam por ser um pouco díspares, finalmente confluíssem num único ponto, um nó que atava todas as pontas.
Tenho um livro na "gaveta" já há cerca de 10 anos! E os poemas que nele estão contidos são os únicos que são conhecidos por mais uma pessoa do que o habitual - além de mim, duas pessoas conhecem-nos.
Tenho um livro na "gaveta" já há cerca de 10 anos! Tão importante para mim que, de tempos a tempos, acho que devia tentar publicá-lo, apenas para acabar por adiar sempre essa tomada de decisão, por achar que aquilo que é extremamente importante para mim pode perfeitamente ser extremamente ridículo para os outros.
Tenho um livro na "gaveta" já há cerca de 10 anos! E este é o seu primeiro poema, aquele que despoletou tudo:

quando o nevoeiro levantar
caminharemos em direcção ao sol
predadores de deus
na estrada para a liberdade

caminharemos no desespero
de uma vida sem lei
abandonados perante o
vazio

filhos do caos de uma era
fratricidas
da aurora ao poente

vaguearemos
como cães esfaimados em busca
do nosso fim

uivaremos a nossa dor
à lua que, prenhe, se
erguerá no céu

loucos perante o abandono
tentaremos devorar os
astros que,
luminosos, nos revelarão a nossa
nudez

sós, perante o meio
que nos gerou
choraremos a liberdade
que não suportamos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Já não está só na tua cabeça. já existe, é real.
Falta mostrá-lo a outrem, editá-lo, publicá-lo... A questão é a quem...
Yuppie identificada

SpiSan. disse...

Bem-vindo ao mundo dos blogs. E viva a cultura egocêntrica que por vezes nos faz partilhar aquilo que de mais profundo, secreto e belo temos,... a poesia.