quinta-feira, 19 de julho de 2007

descemos à profunda noite, ao derradeiro confronto
calcamos a aridez rochosa e fria que nos aguarda

caminhamos no negro breu temendo o próximo passo
corpos feridos pela rispidez que nos cerca

esgravatamos o solo em busca
de uma verdade ancestral aqui encarcerada
e enfrentamos o terror
de enfim nos reconhecermos
frente-a-frente com o nosso extermínio
derrubando uma a uma as pedras que
formavam a fortaleza que julgávamos nossa

dilacerados pela verdade choramos
toda a mentira que perdemos
e a ignorância em que acreditamos

na avassaladora constatação da nudez
ante o desamparo, o abandono
aqui, nas profundezas do abismo soltamos
o nosso grito niilista
aqui, onde nada subsiste, lançaremos
os alicerces de uma nova era, e
erguer-nos-emos até aos cumes
estrelas fulgurantes em ascensão
na noite abissal

1 comentário:

jorgeferrorosa disse...

Onde descemos afinal? Por onde é o caminho? Calcam-se posturas! Está lá algo que fica por descobrir, algo que nos espera, algo que nos ilude... Apenas passos, apenas caminhos para tentar encontrar o que se busca. Mas o que buscas afinal? A verdade? Onde habita? Fica-se ignorante na constelação da nudez, nos propósitos do niilismo, naquilo onde todos os alicerces não são nada mais do que o contributo para uma nova era. Essa! Chora-se quando se tem lágrimas e o abandono solta-nos ao abismo, para o lado de lá da noite, entre as vozes do abismo, essas que mencionas no teu silêncio, na verdade disponível e no aperto das formas que submetem o teu sorriso avassalador. Fulgurantes momentos que absorvem fantásticos pensamentos... os pontos que se escrevem, os outros que se fazem alusão, aqueles que ficam em ebulição... os outros apenas repousam no cemitério das palavras.

Gostei do teu trabalho. Continua a escrever. Caminhas muito bem.
Abraço da Alma