sábado, 2 de abril de 2011

esta é a noite sem sono.
das horas perdidas e do tempo gasto
incapaz de descortinar ou criar algo.
esta é a noite sem destino,
sem vislumbres, voz ou acção.
esta é a noite do silêncio,
quando os demónios se erguem e as sombras
se abatem.

esta é a noite (mais uma noite)
em que a guitarra não soa,
o seu vagaroso timbre a preencher as trevas.
esta é a noite vã.

esta é a noite da profunda apatia,
do insistente roçar na madeira
das unhas quebradas do sonho gasto.

esta é a noite em que vos ouço a dormir
e tento aninhar-me entre o profundo respirar
do vosso sono
e espero, e espero
entrelaçar nos vossos sonhos a memória
do edifício que erigimos em conjunto e espero
que a vossa beleza se entrelace com a minha angústia
e os vossos sonhos se entrelacem com o meu desespero
e um dia, um dia eu espero
que esta noite seja longínqua,
mais em memória que tempo,
e possamos olhar para aquilo que tecemos
e antes do fim da jornada achar
que valeu a pena.

esta é a noite em que sento e penso,
a noite em que não chego a parte nenhuma.
esta é a noite
só a noite
só mais uma noite...