sexta-feira, 13 de julho de 2007

no frio das sombras,
onde a aparência
não mais existe,
e apenas a forma
se faz valer.
onde apenas a verdade
do contorno,
que cerca toda
esta existência,
tem hipóteses
de subsistir.

onde os olhos
se fecham
e nos recolhemos
ao ventre
da dor
e não mais ocultamos
os rostos.

o desespero transborda
no traço do contorno,
a vida torna-se vazia
quando se lhe retira
o medo e a mentira.
sem nada a temer
todos se acobardam
perante a liberdade.

que as correntes fossem
um pouco mais discretas,
os ferros mais macios,
mas que a liberdade
não fosse total -
eis os lamentos que oiço.
mas a liberdade
só pode ser total.

no frio das sombras,
na nudez completa
onde todos temem olhar-se,
não por pudor,
por cobardia
onde o fogo
queima as entranhas,
mas o vazio
causado pela fuga
da hipocrisia
é de tal modo
incomensurável
que as forças faltam
para caminhar.

o terror mora aqui,
onde te encontrarás.
onde virás procurar-te
quando o ódio contra ti
se tornar insuportável,
quando te cansares
da tua falsidade
e sucumbires
ao anseio de seres
quem na verdade és.

podes vir
a qualquer momento.
podes chorar
o quanto quiseres.
ninguem te aguarda
ninguem chora
a tua partida.
apenas te prometo
a dor da ressaca
o medo
e o desespero.

eis o espelho -
mira-te nele,
é inútil cegares-te
ou desfigurares-te,
o rosto permanecerá
lá, inalterável,
a fitar-te,
nem sequer precisarás de o olhar
para o saberes.

retira os véus
e deixa-te cegar
pela luz ao deixares
o frio das sombras...

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