quinta-feira, 13 de março de 2008

"alcança as estrelas. tudo te aguarda
e te está destinado. apenas o tempo
é a barreira que te separa do objectivo
que inevitavelmente alcançarás."
- esta é a voz da ignorância.
"tudo é em vão, toda a vitória
uma ilusão. vem, vem, deixa-te
cair, em direcção a mim, à minha
carícia traiçoeira, ao envenenado conforto
que te segreda que nunca
saciarás o desejo."
- esta é voz da destruição.
"a essência do desejo é a procura, e a desta é
a questão. questiona tudo, questiona-te
a ti. olha as profundezas e reconhece
a escuridão que carregas. procura
o fim das crenças e encontra
a tua verdade. não temas
descobrir-te na noite profunda onde
resides só. transpõe o umbral
para o desfiladeiro onde te perdes e encontra-te
na queda nas falésias extremas. aprende
com a fénix o segredo
da destruição e do renascimento
e ascende com as asas
que conquistaste."
- esta é a voz do abismo.

segunda-feira, 3 de março de 2008

permaneces fechado no fim de longos corredores
cujas portas parecem vibrar de opressão e silêncio,
retido no vazio a desfiar essas horas
em que questionas, perdido, o que existe
para lá da tristeza e da decepção.

porque permaneces aqui neste deserto
se és o fim das fronteiras e cruzas
os arrabaldes de mundos sempre em busca
sem nunca encontrar repouso?

se és chama sem ainda teres a lenha,
em que estrela te expandirias se pudesses
fazer brilhar as sonhadoras realidades
a partir do teu epicentro e em direcção ao infinito?

se soubeste olhar sem medo e reconhecer
toda a decadência que carregamos,
se viste os planaltos e os desfiladeiros negros
por onde as sombras caminham altivas,

se conseguiste buscar em ti uma e outra vez
as profundas falésias para lá das quais nada é,
e desse confronto dilacerante conseguiste
descortinar uma linha condutora para a tua obra.

...olhas longamente o abismo, e ele
devolve-te o olhar, a sua fenda
parecendo sorrir-te já reconhecendo
as tuas asas. e tu?...