quarta-feira, 30 de abril de 2008

na ausência povoei o meu mundo com monstros,
habituei os olhos à escuridão, especializei-me
na construção das muralhas desta cidadela
que jamais alguém ousa violar.

a única porta para o refúgio dirige o olhar
para o abismo em cujo promontório aguardo
a chegada do seu anjo, observando
atentamente a negrura imóvel na esperança
de ver a sua chama irromper.

mas as profundezas repousam na sua imobilidade alheias
a quaisquer anseios ou sonhos.
resta o bálsamo da misantropia, envenenado como poucos,
como companhia nestas reflexões nocturnas.

viro as costas à noite abissal, furioso
com a solidão e o silêncio que assombram
os corredores que percorro até ao átrio da minha fortaleza.
ensandecido derrubo a muralha e constato
que há muito me tornei invisível...

2 comentários:

No Limite do Oceano disse...

Antes de mais obrigado pelas palavras que deixaste no meu "oceano" é certo que aquelas "pessoas" precisam que eu dê continuidade à "vida" delas mas mesmo que faça do meu tempo o seu tempo há sempre momentos em que vagueio por outros "mundos" que não o meu.

Para mim o abismo é o infinito de algo que à partida pensamos como mau, mas neste teu texto que não lhe deste um título podia escrever muito sobre ele, mas acho que se te disse que a invisibilidade é um dos meus estados, que constantemente fala, ri e chora, faz do meu oceano o resultado de uma pequena gota, seja de água, de suor ou mesmo uma lágrima.

Mais uma vez obrigado pelas palavras e por muitos caminhos que possamos dar, eu passarei por este quando puder.

*Hugs n' smiles*
Carlos

Anónimo disse...

Descobri-te, maravilhei-me a ler-te e...sempre que puder, vou voltar.
Bj