quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

entra nessa noite profunda, cuja atmosfera,
qual fio retesado, apenas aguarda
a vibração do grito

deita-te nessa avalanche de sensações
onde o mar em revolta arremessa os seus despojos
de encontro à costa dilacerada

sente o vento que varre o promontório
enquanto perscrutas o horizonte por sinais do naufrágio

ergue-te, coroado com os primeiros raios da aurora,
reconhecendo a sua filiação nas trevas.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

momentos

há um momento em que todas as vozes se fundem num só murmúrio,
parecemos flutuar, por vezes crescer, e ficamos alheios a tudo,
perscrutando o infinito, ou de olhar fixo num ponto,
um momento em que nos encerramos no nosso próprio mundo.

há um momento em que pesamos prós e contras, olhamos
os caminhos percorridos e reflectimos sobre o que nos tornamos,
um momento em que desejamos destruir aquilo que somos.

há um momento, tantos momentos, em que descemos,
descemos ao mais fundo de nós, e quebramos, choramos
as carícias por que ansiamos, os objectivos que adiamos.

há um momento em que a raiva vem à tona,
emerge para nos submergir, e o desespero toma conta de nós,
inunda-nos um ensejo de destruir, essa volúpia niilista,
que se sobrepõe a essa carne não-saciada, instila o veneno
que nos leva ao momento, tão negro, em que desejamos morrer,
tão belo, tão angustiante, em que desejamos renascer...

domingo, 6 de janeiro de 2008

ele caminha entre os planos da indefinição
alheio às formas que assomam à sua volta,
dando passos entre mundos etéreos
em busca de chaves para corredores secretos.

ele procura na poeira das estrelas,
incerto da sua origem,
tacteando o vazio, mexendo
na matéria dos sonhos
ou de memórias ancestrais.

aponta para o infinito,
numa demanda angustiante,
fechado no seu castelo tentando
solucionar o enigma antes de as passagens
serem permanentemente seladas.