sábado, 30 de agosto de 2008

vou descrevendo círculos no meu voo
observando à distância
antes do mergulho a pique,
um batedor em missão de reconhecimento.
próximo do nível do chão
voo em movimentos tangentes.
um bater de asas imperceptível,
a minha figura invisível.

distancio-me ao roçar a verdade
dos sombrios arrabaldes
regressando às escarpas.

por vezes sou
como uma águia tudo registando
a partir da sua solidão rochosa
por vezes sou
como maldoror no cimo da falésia
a observar o naufrágio.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

contempla os despojos do teu dia
e diz-me
em que ponto eles se curvam
projectando uma sombra sobre a tua vida
a cujo enlace não consegues escapar.

fala-me do momento
em que te vês subitamente

na angustiante convicção
de que ninguém escuta e tudo
é vão.

conta-me
o que esses tristes olhos vêem
quando se demoram longamente
a olhar o futuro

e para lá dos muros
encontram o vazio...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

há uma melancolia que se instala
na hora da partida
quando observas os rostos que se ausentam,
ponderas sobre a vida
e reequacionas opções tomadas.
deixas vaguear a tua mente
por momentos
e tentas imaginar como
estas vidas se projectam para lá
do ponto em que se cruzam.
impossível tocar toda esta humanidade...

há um desejo que se instala
quando olho as estradas num mapa
e anseio percorrer todas elas,
ganhar asas e partir
com as vagas migratórias dos pássaros,
sempre em busca do sol, sempre em busca do sol.
regressar volvidos anos com
a saudade a transbordar nos olhos,
profética barba em desalinho,
emaranhada como as estradas percorridas,
como as vidas vividas...