quarta-feira, 23 de julho de 2008

movo-me na serena ambiguidade do dia
escrutinando a hipótese e a sua ausência.
sou o meu duplo incaracterístico perdido na aleatoriedade.

nesses dias que se mantêm inalterados,
exibindo os seus brilhos de demência,
perspectivo a ausência em que me debato
numa linha condutora de pensamento
em que busco ordenar o caótico e o arbitrário,
esquadrinho as franjas eliminando à partida o absoluto
com vista à reavaliação dos valores.

o tempo vai-se gastando na extrema
involuntariedade do trajecto percorrido
na longa estrada para nenhures,
antecipando o vazio que aguarda impassível
no término desta rota.

desvio-me das vias com destino assinalado
e embrenho-me nos trilhos das florestas que as ladeiam.
imagino-me sempre um lobo a uivar solitário à lua, ou então
uma águia, tudo observando do seu posto nas falésias,
ou serei um corvo aguardando a carniça da batalha,
percorrendo o mundo, serei pensamento ou serei memória?

quinta-feira, 10 de julho de 2008

saber em que mares navegamos quando,
a coberto da noite, nos lançamos à deriva
e procuramos em vão pelo nosso reflexo
no oceano em revolta.

procurar, por entre os murmúrios do vento,
pelo nosso nome sussurrado numa promessa
de um amanhã cuja aurora nunca chega.

querer encontrar em toda a arbitrariedade e em toda a dor
um fio condutor que justifique todos os dissabores
trazidos pela amargura de uma má escolha.

desesperar pelo vislumbre da luz de um farol
quando, na imensidão perdidos, ainda nos agarramos
a uma réstia de esperança de sermos conduzidos a bom porto.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

a noite chegou com os seus sortilégios,
mil encantos e promessas
de um novo amanhecer.

saltamos a questão, contornamos
o momento e escolhemos
as saídas transversais.

uns olham a aurora com esperança,
outros vêem a destruição
que a sua luz ilumina.

por vezes parece-me
que apenas eu fico retido
nesta noite sem saída.

encolho os ombros em resignação
(sorriso amargo a aflorar-me os lábios)
e prossigo na ameaça
de derrota.