sábado, 22 de agosto de 2009

há um rosto que eu não reconheço
e que me observa,
de olhos castanhos cansados por horas
não dormidas,
semblante carregado a escrutinar
passado presente e futuro

há um rosto que eu não reconheço
e que me observa
e nos fios do seu cabelo e barba vejo
linhas brancas a redesenharem
um rosto que me observa e não
reconheço
e nos seus olhos agora vejo a cintilar
memórias que nunca viveram,
e o seu rosto endurece denunciado pela saliência
das suas maçãs
e uma fúria cujo olhar sinto a cravar-se
aflora-lhe à pele

há um silêncio que só eu consigo escutar
e que me acompanha
e nesse silêncio estão contidas todas
as palavras que eu escrevi e que nada
mais são que silêncio feito verbo de silêncio
dissimulado

há um silêncio que me acompanha
no rosto que me observa e eu
não reconheço,
um silêncio grande profundo como
se adivinha que outrora foram os seus
olhos,
um silêncio vincado nos lábios nos olhos nas linhas
que redesenham o silêncio branco grave
com a solenidade dos anos

há silêncio num rosto que me observa,
desvia o olhar quando desvio o meu,
que me fita não me reconhecendo
no silêncio da memória...

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