terça-feira, 21 de agosto de 2007

e tudo isto são vozes do abismo
marcas do meu falhanço, sinais
da minha descoberta
instantâneos de fracasso, devaneios
na solidão
retratos de decadência e doença

e tudo isto são caminhos no desfiladeiro
trajectórias erráticas no planalto
da desolação
percursos entre sombras e conhecimento
reflexões no silêncio

e tudo isto são mapas
percursos iniciáticos de uma
quási religiosidade niilista
ascensões na descida

e tudo isto são relatos de viagem
a destinos que talvez desejasse
ignotos
quanto de mim vê nisto repulsa
e quanto vê atracção

e tudo isto são fracturas
desabamentos, passos em falso
na orla do precipício

tudo isto são cicatrizes
pontos de referência
marcos geodésicos na
espiral descendente

tudo isto é depressão
tudo isto é busca
tudo é melancolia, sonho
nascimento ou destruição
tudo é apatia

tudo isto é angústia
tudo um ponto
de convergência
correntes subterrâneas em
manifestação na fugacidade

tudo isto é sexualidade, tudo é misticismo
tudo isto são momentos de liberdade
tábuas de salvação numa vida
à deriva, porto seguro
na tormenta

tudo isto é chama
irradiando imensa
na noite

tudo isto
é tudo...

2 comentários:

jorgeferrorosa disse...

Belo poema. Digo-te que este teu escrito, está fantástico, evoca pontos que devemos considerar, contudo, deixo-te a questão: porque os evocas? Grande ebulição mental, procuras-te pela própria reflexão, onde os ingredientes filosóficos fazem-te votar a uma instrospecção constante, a um outro mundo cadenciado de matizes e forças supremas, chama-lhe de misticismo ou sexualidade. Não interessa, tudo faz parte da vida. Cuidado, não vás cair "na orla do precipício", pois ficarão as cicatrizes! Escreve, continua a escrever, somente pela escrita poderás mostrar outras tuas facetas que antes estavam no silêncio. Força. Aguardo novas produções.
Abraço da Alma.

vera viana disse...

Mas tudo faz parte de ti, são pedaços do teu ser que em bom tempo se revela e multiplica.
Prossegue no desassossego da tua busca, por caminhos infindáveis e para destinos insondáveis, mas sempre acompanhado...