há demasiado tempo que o ar nesta latrina se tornou insuportável
e cada dia é vivido na vã mentira a nós próprios
de um dia conseguirmos respirar.
há demasiado tempo que as sombras se tornaram tão densas
que nos substituíram
e nos perdemos no esbatimento da sua projecção.
há demasiado tempo que não sabemos o que é suposto sermos
para além de toda a carga que agora nos anula
e que sentimos nunca terminar.
há demasiado tempo que nos separamos e esquecemos
o trajecto que tínhamos perfilado no horizonte
aonde sabíamos que iríamos chegar.
há demasiado tempo que as armas foram depostas
e se encontram enferrujadas num canto
para onde relegamos os sonhos que preferimos não sonhar.
há demasiado tempo que não sermos se tornou banal
e queimamos o tempo numa cruel ânsia
por um fim nulo.
há demasiado tempo...
há demasiado tempo que aguardo o dia
que cesse a noite que me encerra
e possa rever, por entre névoa e ruína,
quem eu julgava ser.
há demasiado tempo, porém, que perdi aquilo que fui
e me tornei no que sempre odiara.
há demasiado tempo que vivo incapaz sequer de descortinar
a saída do labirinto.
há demasiado tempo que fui devorado
pelo que nunca desejei.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
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1 comentário:
Desconcertante, este poema.
Abraço.
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