tag:blogger.com,1999:blog-7237589125083923182024-03-14T03:45:18.303+00:00as vozes do abismojorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.comBlogger110125tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-21169557397910111352014-01-30T23:37:00.000+00:002014-01-30T23:43:33.991+00:00sombras iias sombras cresceram para lá do que era esperado nesses dias<br />
e, nelas, o silêncio das palavras se deteve<br />
enquanto, à sua volta, as fundações anunciavam<br />
as fissuras que haviam escondidojorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-55069405289311105112014-01-28T18:57:00.000+00:002014-01-30T23:34:39.237+00:00sombras inaquela noite as sombras tornaram-se densas<br />
alongando a sua forma até ao perfil de uma lâmina<br />
e a memória das noites perdidas<br />
a gritar para o vazio<br />
anunciou o seu regressojorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-89198067326110250292011-11-15T00:55:00.001+00:002011-11-15T01:04:00.714+00:00noite. é neste silêncio que eu procuro o som.<br />
naquele momento em que o ruído de fundo sobrevem<br />
e nos apercebemos que, na realidade, não existe silêncio.<br />
aquela hora em que a cidade aparentemente dorme a meus pés<br />
mas emana um pulsar constante.<br />
o pulsar eléctrico de mil máquinas "silenciosas" em funcionamento.<br />
o pulsar dos corpos que, aqui e ali, se buscam e se debatem.<br />
o pulsar de choros refreados, de tragédias pessoais, de desalentos e amargura.<br />
um pulsar grave,... contínuo,... lento...<br />
pudesse um único som resumir a nossa existência e seria<br />
o de uma estrela a ser sugada para o vórtice.<br />
uma força voraz que não atende aos desejos, cega ao passado.<br />
deus?<br />
no vazio o som não se propaga...jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-79967327954614353432011-10-12T23:39:00.000+01:002011-10-23T01:32:52.481+01:00que a noite te encontre já imersa nas sombras<br />
não temendo o seu avanço<br />
e da música apenas reste<br />
a cadência soturna que, abafada, anuncia o fim.<br />
<br />
and may the faintest beams of light<br />
spreading on the shores on an autumn twilight<br />
find you on the beach, warming you,<br />
while you stare into the sea.<br />
<br />
porque a hora do fim será sempre sombria<br />
e nada nos resta senão aqui e agora.<br />
e tudo o que quisermos sorrir, dizer e amar<br />
deverá ser gravado aqui.<br />
<br />
for there is no god above nor afterlife,<br />
no injust punishment nor eternal reward,<br />
all that may be, you see, is circumscribed<br />
in an arch spreading from birth until the final goodbye.<br />
<br />
que a hora esteja distante<br />
mas que não te detenhas na espera...jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-40286582512688805112011-09-14T00:36:00.000+01:002011-09-14T00:36:38.272+01:00é o silêncio que paira sobre tudo isto.<br />
um silêncio denso. como que uma muralha<br />
que, após ser construída, foi sendo reforçada<br />
ano após ano.<br />
irónica figura de estilo, por nessa muralha<br />
estar na verdade a única saída, a única voz...<br />
<br />
é o vazio que domina isto tudo.<br />
um vazio imenso. como se nos sentássemos<br />
no fim do universo e pudéssemos ver<br />
todo o vazio que existe para além.<br />
todo o vazio que nada é, que tudo poderia ser.<br />
estranha figura de estilo, por esse vazio<br />
ser o que na verdade me preenche,<br />
que propaga a minha voz...jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-52014394364246885202011-09-09T23:49:00.000+01:002011-09-09T23:49:23.953+01:00desço agraciado pelas sombras,<br />
na solitária companhia dos vultos<br />
que o tempo esqueceu.<br />
solícitos na sua compreensão, rejeito porém<br />
os ombros que me oferecem.<br />
<br />
nunca estou em paz! nem estes vultos<br />
que comigo ombreiam,<br />
contando comigo para sua memória<br />
vislumbram o opaco vazio que me assoma.<br />
<br />
não sou alfa nem omega, apenas a fugaz impressão<br />
de algo que não foco.<br />
um corpo à deriva até passar o limite último<br />
deste sistema<br />
e enveredar pela trajectória do oblívio.<br />
quem era? existiu? nada ficou!...<br />
... ... ... ... ...<br />
<br />
sorri, enquanto for essa a tua hora<br />
e a grandeza da tua sombra crepuscular<br />
vencer o mais alto edifício que te acerque.<br />
após isso, resta-nos... nada...jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-52216775313190584492011-04-02T04:27:00.000+01:002011-04-02T04:27:27.989+01:00esta é a noite sem sono.<br />
das horas perdidas e do tempo gasto<br />
incapaz de descortinar ou criar algo.<br />
esta é a noite sem destino,<br />
sem vislumbres, voz ou acção.<br />
esta é a noite do silêncio,<br />
quando os demónios se erguem e as sombras<br />
se abatem.<br />
<br />
esta é a noite (mais uma noite)<br />
em que a guitarra não soa,<br />
o seu vagaroso timbre a preencher as trevas.<br />
esta é a noite vã.<br />
<br />
esta é a noite da profunda apatia,<br />
do insistente roçar na madeira<br />
das unhas quebradas do sonho gasto.<br />
<br />
esta é a noite em que vos ouço a dormir<br />
e tento aninhar-me entre o profundo respirar<br />
do vosso sono<br />
e espero, e espero<br />
entrelaçar nos vossos sonhos a memória<br />
do edifício que erigimos em conjunto e espero<br />
que a vossa beleza se entrelace com a minha angústia<br />
e os vossos sonhos se entrelacem com o meu desespero<br />
e um dia, um dia eu espero<br />
que esta noite seja longínqua,<br />
mais em memória que tempo,<br />
e possamos olhar para aquilo que tecemos<br />
e antes do fim da jornada achar<br />
que valeu a pena.<br />
<br />
esta é a noite em que sento e penso,<br />
a noite em que não chego a parte nenhuma.<br />
esta é a noite<br />
só a noite<br />
só mais uma noite...jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-77222240740394658912011-03-24T21:56:00.000+00:002011-03-24T21:56:49.352+00:00hoje as sombras alongam-se e a noite silenciosa<br />
carrega o estertor de casa em casa sem saber ler<br />
na porta a marca dos justos.<br />
hoje o ar adensa-se até um clímax inalcançado<br />
e os sussurros gerarão o grito morto prematuramente.<br />
hoje a vida esvai-se, sangra-se o futuro e contam-se as armas.<br />
hoje a rua em chamas celebrará o fim.jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-32754212291986251662011-01-13T01:59:00.000+00:002011-01-13T01:59:49.785+00:00ouve-me. sou a tua voz, de novo, aquela que te encontra<br />
no contínuo sussurro que não sossega.<br />
ouve-me. é de novo a voz do abismo que te chama.<br />
a tua companhia constante nas descidas ao subterrâneo.<br />
ouve-me. quanto tempo se passou? foram semanas, meses?<br />
tudo se concentra neste momento.<br />
a hora em que a mente divaga, o olhar fixo penetra o vazio<br />
e a mão automática pega na caneta e mancha o papel.<br />
sim, o papel, essa tela onde se imprime a fúria, a incerteza, o erro.<br />
esse quente registo humano, físico como eu, a voz que sussurra.<br />
que observa, que toma notas, que vai tecendo a tapeçaria<br />
na qual te deitas nos teus momentos de grave solenidade, de desespero, de tristeza.<br />
a tapeçaria onde te deitas e sentes todos os seus filamentos<br />
a procurarem contacto com esse corpo, essa mente de onde saíram.<br />
ligação directa ao centro nevrálgico da experiência.<br />
onde a vida se preenche no contorno das cicatrizes que sulcam a superfície<br />
no planalto da loucura.<br />
sim, é do físico que se fala. esta é a escrita da terra.<br />
é a marca impressa na lama seca quando o fogo desvaneceu<br />
a beleza primordial da água e o vento expôs a crueza do solo árido.<br />
ouve-me... eu sou o sussurro que percorre o deserto e te mostra<br />
a entrada da caverna.<br />
ouve-me... e sente na carne a dor dos primeiros passos<br />
quando almejas as estrelas mas a queda te recorda o teu verdadeiro lugar.<br />
ouve-me... envio-te sílabas soltas no vento, embalo-te na água e<br />
seduzo-te no fogo. ouve...<br />
o caminho está para lá das montanhas, nas falésias que o vento<br />
acaricia e molda nas suas investidas.<br />
o caminho está para lá dos oceanos que vêm a aurora.<br />
o caminho está onde tu estás...jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-2048056965967254112010-10-20T11:48:00.001+01:002010-11-08T13:34:23.039+00:00o relógio marca o compasso opressor do tempo a esvair-se.<br />
sangra-se o tempo que não foi nas saídas mortas do labirinto.<br />
na eterna repetição da hora, no momento desconexo da amarga [contemplação<br />
quando as sombras se distendem e vencem a estatura<br />
da figura que recortam na solidão do plano.<br />
aí, nesse momento de crepúsculo, entre a hora que partiu e a que [chega,<br />
encerra-se o segredo da minha existência.<br />
a ténue fracção de segundo não percepcionada<br />
entre o brilho e o ocaso. o reino da invisibilidade,<br />
o eterno segredo que não precisa de o ser.jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-77213148056683478782010-09-02T00:49:00.000+01:002010-09-02T00:49:08.735+01:00aparentemente imóvel, movendo-se porém a uma velocidade<br />
que nenhum olho consegue percepcionar.<br />
como o padrão no canto de uma baleia, indistinguível<br />
ao ouvido humano.<br />
sempre foi esse o segredo da minha auto-destruição.<br />
<br />
movo-me como as placas tectónicas, imperceptível até ao dia<br />
em que nos detemos a admirar a sua transformação e nos [questionamos<br />
como foi possível chegar a este ponto sem que o tenhamos visto.<br />
<br />
sou um vírus adormecido até à data da sua furiosa disseminação.<br />
sou um sonho incandescente a tragar mundos<br />
a serem descobertos num futuro remoto.<br />
trago a memória dos dias que não foram,<br />
quando a morte se acercou da criança adormecida<br />
e a beijou na fronte deixando a peste invadir<br />
o virgem sono.jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-35943861283248585752010-09-02T00:38:00.000+01:002010-09-02T00:38:40.297+01:00há um túnel onde se caminha de cabeça baixa<br />
e, mantidos na obscuridade, acreditamos na nossa solidão.<br />
um caminho sinuoso do qual não sabemos como sair,<br />
que nos conduz sempre mais perto do coração das trevas,<br />
onde buscamos a justificação para o ódio que nos infligimos.jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-1905309123295682152010-08-24T00:24:00.000+01:002010-08-24T00:24:51.117+01:00o dilacerante desespero do grito ofuscou o brilho do dia<br />
ecoando mudo no plano da mente reconduzindo as trevas<br />
à sua morada habitual e, como que com um sopro,<br />
a paisagem desvaneceu-se deixando apenas a terra estéril.<br />
<br />
a mão que desenhava a paisagem deteve-se<br />
petrificando-se num ponto tão vazio<br />
quanto a efémera concretização do desejo.<br />
e, nesse instante perpetuamente suspenso, a noite<br />
alongou-se até a sua vastidão tudo engolir.<br />
<br />
na longa estrada que cobre a distância da memória<br />
muitos são os que permanecem perdidos.<br />
e o que somos nós senão a recordação que fica<br />
após o tempo findo?jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-47144812396585410732010-04-04T15:07:00.001+01:002010-04-04T15:08:46.045+01:00o nosso traço esbateu-se diluído na incerteza<br />
com que os dias se redesenharam a partir da nossa janela.<br />
o grito que louvávamos emudeceu moribundo<br />
com os últimos ecos a povoarem o lugar da nossa ausência.jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-14300726905706806412010-03-31T01:52:00.000+01:002010-03-31T01:52:13.010+01:00Primeira parte de Altar of Plagues<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdlC2xTqdg9RhZMz-QDxHQn84YJjHsPFFNngk-wBmi-xT2gdpNhH4Ltt_IbnZR4-swbYvHDIpXyTHsy7xjMN28N6svP8cP19r007WuokKwsxgAYQSOD7OzKxuzCG2zfgAiiyHGSHyru6E/s1600/Altar-of_plagues-final.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdlC2xTqdg9RhZMz-QDxHQn84YJjHsPFFNngk-wBmi-xT2gdpNhH4Ltt_IbnZR4-swbYvHDIpXyTHsy7xjMN28N6svP8cP19r007WuokKwsxgAYQSOD7OzKxuzCG2zfgAiiyHGSHyru6E/s320/Altar-of_plagues-final.jpg" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">A convite da Amplificasom, dia 6 de Maio farei a primeira parte do concerto de Altar Of Plagues na Fábrica de Som. A minha prestação consistirá numa leitura integral do livro "A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer" da autoria de Stig Dagerman (editado em Portugal pela Fenda). À satisfação enorme em me ter sido feito tal convite, acresce o facto de ir ler este pequeno grande livro, tão importante para mim, de um dos meus autores favoritos. Seguir-se-à o concerto dos Altar of Plagues (verdadeira razão para se aparecer por lá) que, após o excelente "White Tomb" do ano passado, por essa altura já terão editado o seu novo EP, intitulado "Tides", que conterá dois temas que, segundo os próprios, foram inspirados pelo poder e energia do Oceano Atlântico.</div><div style="text-align: justify;">Apareçam! </div>jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-35432731664382458202010-02-11T00:05:00.000+00:002010-02-11T00:05:49.596+00:00não me mostres a memória, o sonho,<br />
a ideia do que eu seria<br />
para lá de tudo o que não sou.<br />
<br />
não me recordes a glória, a ânsia<br />
que possuía de vencer<br />
em todas as batalhas em que fui derrotado.<br />
<br />
não me lembres quem eu era<br />
para não tornar ainda mais<br />
impossível de suportar quem me tornei.jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-49543605327193052022010-02-06T15:18:00.000+00:002010-02-06T15:18:24.725+00:00a luz evanescente traz consigo um apelo<br />
que estende o seu murmúrio reverberando<br />
onde ecoam os passos da solidão<br />
<br />
há encerrada em si a memória<br />
da linha do horizonte recortada a laivos de fogo<br />
precedida pelo mar<br />
<br />
eu ainda estou naquele rochedo<br />
onde as ondas contavam segredos<br />
e imprimiram em mim a sua voz<br />
<br />
eu ainda tenho dez quinze vinte anos<br />
e tudo é ainda jogado<br />
no campo das probabilidades<br />
<br />
ainda as sombras não se abateram<br />
e a tempestade surgiu no horizonte<br />
ainda a inocência perspectiva o futuro<br />
<br />
já a mácula se instalou ainda que indelével<br />
mas a sua presença não foi notada<br />
até à hora das trevasjorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-44209312204228547682010-02-05T02:02:00.000+00:002010-02-05T02:02:35.940+00:00há demasiado tempo que o ar nesta latrina se tornou insuportável<br />
e cada dia é vivido na vã mentira a nós próprios<br />
de um dia conseguirmos respirar.<br />
<br />
há demasiado tempo que as sombras se tornaram tão densas<br />
que nos substituíram<br />
e nos perdemos no esbatimento da sua projecção.<br />
<br />
há demasiado tempo que não sabemos o que é suposto sermos<br />
para além de toda a carga que agora nos anula<br />
e que sentimos nunca terminar.<br />
<br />
há demasiado tempo que nos separamos e esquecemos<br />
o trajecto que tínhamos perfilado no horizonte<br />
aonde sabíamos que iríamos chegar.<br />
<br />
há demasiado tempo que as armas foram depostas<br />
e se encontram enferrujadas num canto<br />
para onde relegamos os sonhos que preferimos não sonhar.<br />
<br />
há demasiado tempo que não sermos se tornou banal<br />
e queimamos o tempo numa cruel ânsia<br />
por um fim nulo.<br />
<br />
há demasiado tempo...<br />
há demasiado tempo que aguardo o dia<br />
que cesse a noite que me encerra<br />
e possa rever, por entre névoa e ruína,<br />
quem eu julgava ser.<br />
<br />
há demasiado tempo, porém, que perdi aquilo que fui<br />
e me tornei no que sempre odiara.<br />
há demasiado tempo que vivo incapaz sequer de descortinar<br />
a saída do labirinto.<br />
há demasiado tempo que fui devorado<br />
pelo que nunca desejei.jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-33529215920925283312010-01-25T02:48:00.002+00:002010-01-25T02:50:34.170+00:00é uma estranha serenidade,<br />
uma doentia ausência de mobilidade<br />
que dissimula uma raiva demasiado<br />
profunda.<br />
é como uma casa, perfeitamente visível<br />
e por onde toda a gente passa,<br />
sem que nunca ninguém se aperceba<br />
do que realmente ocorre<br />
no seu interior.<br />
uma jaula de vidros fumados<br />
insonorizados e inquebráveis<br />
onde se é destruído à vista<br />
de todos.<br />
<br />
é uma distância impossível de descrever<br />
e percorrer,<br />
um caminho onde tu próprio detonas<br />
as pontes que te conduziriam de regresso.<br />
uma fuga sempre em frente numa<br />
ânsia auto-destrutiva por um<br />
abismo.<br />
é uma sensação de tudo querer<br />
e nada fazer,<br />
desejar as estrelas sem antes aprender a dar<br />
um passo.<br />
<br />
é a expectativa de um rio a transbordar<br />
espera-se sempre que os diques aguentem<br />
mais um pouco,<br />
nunca sabemos quando virá a<br />
derradeira gota que fará<br />
transbordar a represa.<br />
tem-se o secreto desejo de<br />
ao menos a destruição deixar<br />
memória.<br />
<br />
é a voz que se cala, uma e outra vez,<br />
o grito que se deixa morrer<br />
na garganta, até que<br />
se deixa de saber gritar.<br />
são todos os sons que deixamos<br />
desaparecer até<br />
já nem a memória restar.<br />
<br />
é a dor dos anos que passam<br />
sem que a imobilidade seja<br />
abalada.<br />
é o desespero que vai chegando,<br />
primeiro de mansinho até<br />
se sentir a sua presença de forma<br />
avassaladora.<br />
é o animal que vai saltando às grades<br />
já ignorando a intensidade com que<br />
se fere.<br />
<br />
é a escolha da vítima em sê-lo<br />
porque o carrasco sempre<br />
o será,<br />
é a violência que jaz adormecida<br />
latente<br />
a aguardar o pior momento que comprove<br />
a nossa bestialidade.<br />
é a dolorosa constatação da derrota perante a <br />
vida.jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-12250414331567575732010-01-24T00:03:00.001+00:002010-01-24T00:03:48.917+00:00<div style="text-align: justify;">as fissuras afloraram à superfície, imperceptíveis de início, mas logo inequivocamente presentes, conferindo, numa primeira visão de relance, uma distinta aura de pintura antiga, uma falsa disposição artística, revelando logo em seguida porém as suas verdadeiras debilidades, a fragilidade intrínseca que já denunciava o colapso.<br />
</div><div style="text-align: justify;">imóvel, incapaz de se regenerar evitando a desesperante ruína, o edifício desabou num clamor de angústia abrindo caminho à insuportável banalidade do quotidiano humilhante.<br />
</div><div style="text-align: justify;">das suas alas fugiram o que restava da delicadeza e vontade e o ocupante das ruínas renomeou-se desespero.<br />
</div>jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-32932487913864305212010-01-01T01:43:00.000+00:002010-01-01T01:43:12.686+00:00há uma distância enorme medida<br />
pelo comprimento de um braço, pelo toque<br />
de uma mão, o sabor<br />
de um beijo, o som<br />
de uma palavra.<br />
<br />
uma distância de muros<br />
invisíveis, gestos contidos<br />
pela densidade da não-<br />
aparente solidão.<br />
<br />
uma distância árctica nos olhares,<br />
na falsa altivez com que<br />
nos cruzamos a dissimular<br />
a nossa fraqueza.<br />
<br />
há uma distância descrita na<br />
melancolia de um dia<br />
de outono, na trajectória das<br />
folhas<br />
em<br />
queda.<br />
<br />
uma distância impossível<br />
de cruzar e que se acentua nesta<br />
fria idade do mundo<br />
neste lugar de olhares<br />
mais longínquos, mais<br />
frios.jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-52598987426380484152009-12-31T16:06:00.000+00:002009-12-31T16:06:41.472+00:00o silêncio é um resumo da vida<br />
a expressão da perda<br />
de rumo<br />
o vazio que nos acaricia<br />
antes de se<br />
revelar<br />
o grito do desespero morto<br />
na garganta da<br />
apatia<br />
<br />
um som nulo sem espaço<br />
por onde se<br />
propagarjorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-46279056947997394652009-10-07T03:15:00.002+01:002009-10-07T03:20:58.594+01:00vivemos fascinados pelo<br />abismo<br />a infindável vulva rochosa de ásperos<br />lábios<br />que nos traga<br /><br />vivemos hipnotizados pela<br />queda<br />pelo quase imperceptível sussurro do<br />fim<br /><br />nada verbaliza vida como o<br />desejo<br />irracional do seu<br />término<br /><br />a ilusão da hipótese de uma<br />reescrita<br />do nosso trajecto<br /><br />nada implica sonho como a<br />crença<br />e a sua promessa de salvação<br />a projectar o fátuo<br />fogo<br />sobre a treva que nos rege<br /><br />nenhuma mentira maior que uma segunda<br />vida<br />nenhuma maior que recompensa ou castigo<br />eternos<br />que uma justificação para a<br />irresponsabilidadejorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-64119978440387604002009-09-30T00:50:00.003+01:002009-09-30T01:20:40.952+01:00olho as tuas fotografias e não me consigo recordar<br />de quando o teu rosto era aquele que me olha nelas<br />como queria agarrar-te para sempre embalar-te<br />e preservar-te nesse estado em que ainda sou tanto para ti<br /><br />amo-te mais do que consigo exprimir<br />e assusta-me não ser aquilo<br />que os teus olhos vêem<br />trago oculta em mim a angústia do momento<br />em que entenderás que eu nunca<br />consegui viver à altura do que poderia<br />ter sido<br /><br />não sabes a tristeza que carrego e que<br />não quero nunca que seja tua<br />nem as noites que prolongo perdido em busca<br />de algo que nem consigo definir na imobilidade<br /><br />vivo suspenso entre a realidade que sou e o vislumbre<br />da minha probabilidade e aí<br />perco-me na indefinição da hipótese e da capacidade<br /><br />não conseguirás entender a sucessão de registos temporais<br />que de ti guardo até tu própria vivenciares os teus<br />e aí já o tempo sem perdão se terá encarregado<br />de quebrar os laços<br /><br />não imaginas o que consigo ver no teu futuro<br />e como a sua luz contrasta com<br />o que vislumbro no meu<br /><br />vivo com o fantasma de uma oportunidade niilista<br />aguardo a chegada do fim com a convicção<br />do nada que ele encerra e assim emoldurado<br />projecto a angústia e urgência da vida<br />enquanto engatilho e aponto as minhas armas a um alvo<br />que projecta o seu apelo desde o infinito<br />sempre tão ilusório<br /><br />mas disto ainda nada sabes tudo ainda<br />encerra em si o maravilhoso da descoberta<br />tudo se reveste de uma película de novidade e albergo-te<br />sob esta asa protectora que a seu tempo desejarás<br />não sentir<br /><br />e nessa distância inevitável da vida sinto<br />uma nota que vibra infinitamente ressoando<br />por intermináveis corredores onde o tempo<br />é medido por afastamentos e não duração<br />onde o trajecto das vivências acarreta<br />fronteiras incomensuráveis solidão transfigurada<br />pela busca de um sonho mas digo-te<br />nada disto é real nada disto realmente importa<br />quando na verdade apenas existimos na busca dilacerante<br />por aquilo que já fora nosso quando ainda não o sabíamosjorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-723758912508392318.post-24296648268216807442009-08-22T02:06:00.002+01:002009-08-22T02:29:07.175+01:00há um rosto que eu não reconheço<br />e que me observa,<br />de olhos castanhos cansados por horas<br />não dormidas,<br />semblante carregado a escrutinar<br />passado presente e futuro<br /><br />há um rosto que eu não reconheço<br />e que me observa<br />e nos fios do seu cabelo e barba vejo<br />linhas brancas a redesenharem<br />um rosto que me observa e não<br />reconheço<br />e nos seus olhos agora vejo a cintilar<br />memórias que nunca viveram,<br />e o seu rosto endurece denunciado pela saliência<br />das suas maçãs<br />e uma fúria cujo olhar sinto a cravar-se<br />aflora-lhe à pele<br /><br />há um silêncio que só eu consigo escutar<br />e que me acompanha<br />e nesse silêncio estão contidas todas<br />as palavras que eu escrevi e que nada<br />mais são que silêncio feito verbo de silêncio<br />dissimulado<br /><br />há um silêncio que me acompanha<br />no rosto que me observa e eu<br />não reconheço,<br />um silêncio grande profundo como<br />se adivinha que outrora foram os seus<br />olhos,<br />um silêncio vincado nos lábios nos olhos nas linhas<br />que redesenham o silêncio branco grave<br />com a solenidade dos anos<br /><br />há silêncio num rosto que me observa,<br />desvia o olhar quando desvio o meu,<br />que me fita não me reconhecendo<br />no silêncio da memória...jorge silvahttp://www.blogger.com/profile/07687716619197966845noreply@blogger.com0