segunda-feira, 3 de março de 2008

permaneces fechado no fim de longos corredores
cujas portas parecem vibrar de opressão e silêncio,
retido no vazio a desfiar essas horas
em que questionas, perdido, o que existe
para lá da tristeza e da decepção.

porque permaneces aqui neste deserto
se és o fim das fronteiras e cruzas
os arrabaldes de mundos sempre em busca
sem nunca encontrar repouso?

se és chama sem ainda teres a lenha,
em que estrela te expandirias se pudesses
fazer brilhar as sonhadoras realidades
a partir do teu epicentro e em direcção ao infinito?

se soubeste olhar sem medo e reconhecer
toda a decadência que carregamos,
se viste os planaltos e os desfiladeiros negros
por onde as sombras caminham altivas,

se conseguiste buscar em ti uma e outra vez
as profundas falésias para lá das quais nada é,
e desse confronto dilacerante conseguiste
descortinar uma linha condutora para a tua obra.

...olhas longamente o abismo, e ele
devolve-te o olhar, a sua fenda
parecendo sorrir-te já reconhecendo
as tuas asas. e tu?...

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