domingo, 16 de setembro de 2007

chegas ao crepúsculo envolta nos teus mantos de manhã
e eu já na obscura noite a tentar alcançar
um fragmento sempre negado dessa eternidade
que trazes impregnada olhando-a de soslaio
enquanto questionas o seu poder

sinto no ar um presságio de queda
sempre tão avassalador
sinto em mim uma ânsia de ascensão
sempre aniquilada

e nas profundezas em que mergulho sinto
o cheiro a sangue a estender-me o seu apelo
exibindo a destruição como um narcótico calmante
que devo tomar para sobreviver

de profundis clamavi
lama, lama sabachthani
mas um silêncio quase escarninho
é a única resposta

prossigo na convicção do desassossego
na busca de míticos bálsamos
enquanto me detenho em sucedâneas fugas
repletas de breves inverdades

aguardo solitário no cais o navio que me ensine
o prazer da viagem, o caminho da aurora

na lonjura deste lugar perdido
algures numa fissura do espaço
imóvel, condenado
a ver a evolução desfilar perante mim
eterno espectador, nunca participante
registo efemérides sem nunca ser assinalado

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